domingo, 11 de abril de 2010

CONTO DE QUASE FADAS ( o livro )

1 Contos de Quase Fadas ( o conto )


Quando o relógio da Mesbla completou oito badaladas, Geisa já se preparava para dormir.Ocupava de má vontade um desses cubículos de pensão. Das quatro paredes se inspirava o mofo daquele ambiente, do qual, por várias vezes pensara em se desfazer, além do mais por estar localizado no fervilhão do submundo carioca: a Lapa.

As ruas estreitas, sujas e sinistras, por onde prostitutas rondavam ansiosas, travestis empinavam seus majestosos seios; onde por tais esquinas se agrupavam sorrateiros bicheiros, não escondiam a lama social que o bondinho, nas bordas dos imperativos e luminosos arcos do alto costurava, como que protegendo do contágio ou malefício os moradores de Santa Tereza.
Entre a sensação incômoda de ser confundida com uma “mulher da vida” ou quem sabe e porque não com os travestis, tamanha a perfeição de sua maquiagem e sotaques femininos, debatia a necessidade de experimentar e desenvolver uma personalidade tão cantada em verso e prosa e que a sua futura profissão exigiria: seria jornalista.

Curiosa e covarde, nesse conflito de idéias e sentimentos, Geisa jogou seus longos e rebeldes cabelos, (que em nada se assemelhavam aos de Rapunzel) sobre o murcho travesseiro de crina e adormeceu, naquele quarto úmido, sem balcões coloniais nem príncipes, nem pais austeros, aos cuidados das lacraias e camundongos.

2 comentários:

  1. Gostei Gilce! Eu também gosto de escrever. pode contar comigo para divulgar os teus contos. Abraços.

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  2. Gostei! eu também escrevo. pode contar comigo para divulgar os teus contos. Abraços!

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